É possível pensar em recolocação durante a crise? - CRA-SP
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É possível pensar em recolocação durante a crise?

No final do primeiro trimestre de 2020, quando o Brasil começou a sentir os impactos da Covid-19, registrava-se no país uma taxa de desemprego em torno de 12%, o que significava quase 13 milhões de desempregados. No final de março, a pandemia chegou com tudo por aqui e, para prevenir a acelerada proliferação do novo coronavírus, novas condutas sociais foram adotadas pelas autoridades de saúde, como o distanciamento social.  

Orientações como “fique em casa” ou “só saia para realizar ações essenciais” vieram com força e interferiram não só na prevenção da Covid-19, mas também na economia. Diante dessa necessidade para a preservação da saúde pública, muitos estabelecimentos comerciais foram fechados ou passaram a funcionar de forma reduzida, seja em sua carga horária ou quadro de funcionários. Muitos negócios precisaram se adaptar às novas exigências do mercado e o e-commerce, por exemplo, tem sido a salvação para muitos empresários. No entanto, ele pode funcionar com menos colaboradores. Além disso, a queda no número de consumidores, sejam de serviços ou produtos, consequentemente fez cair também o retorno financeiro. Resultado: muitos empregadores precisaram reduzir suas folhas de pagamentos para tentar sobreviver a essa crise. 

Por outro lado, mesmo diante de todo esse caos na economia mundial, alguns especialistas defendem que esse também é um momento para rever alguns pontos pessoais, entre eles, o lado profissional. Questionamentos, dúvidas, inseguranças e desejos são alguns dos sentimentos que podem surgir nessa fase de confinamento involuntário. Algumas decisões importantes podem sair dessa introspecção, como por exemplo, a vontade de mudar de trabalho ou de área de atuação, mas será que “é possível pensar em recolocação durante a crise”?  

Para responder a essa pergunta, o CRA-SP realizou uma live no seu perfil do Instagram (@cra_sp) com Denise Asnis, experiente gestora de pessoas, com atuação em grandes empresas como Natura, Citibank e Bank Boston, além de ser, atualmente, sócia-fundadora da Taqe, aplicativo de recrutamento profissional para jovens, e sócia-diretora da Oré Consultoria em Educação e Desenvolvimento Profissional. Para um público de 230 espectadores, ela falou sobre as mudanças pelas quais que os recrutadores e recrutados precisam passar para obter mais oportunidades profissionais durante e pós período de pandemia. 

Onde estão as oportunidades? 

Segundo Denise, as oportunidades no mercado de trabalho estão na inovação de cada um. Obviamente, tem sido um momento difícil para todo mundo, no entanto, esse é um período que exige um novo reposicionamento frente a toda essa crise. “A gente precisa ser mais criativo, optar por escolhas diferentes do que estávamos buscando inicialmente”, afirmou, ao se revelar otimista. “Sem dúvida nenhuma tem muito espaço. Temos carreiras novas despontando agora, o que eu acho que é uma super oportunidade”. 

Entretanto, a especialista chamou atenção para um ponto importante. Há espaço para novas vagas no atual mercado de trabalho, porém, nem sempre essas oportunidades serão as vagas do sonho, apresentando-se aí a primeira dica para se manter empregado em meio à crise: ter humildade (de acordo com uma breve busca realizada no dia da live, existiam 700 colocações disponíveis só no setor de logística, por exemplo). Para a gestora, estamos vivendo um tempo que não é de escolha nem de exigências. “Hoje é o momento de você olhar para aquilo que agrega a sua carreira, mas que não necessariamente te remunera da forma como você estava acostumado, por exemplo. É preciso estar mais aberto às oportunidades do mercado de formas diferentes”, orientou. 

Partir para rumos nunca antes pensados, segundo Denise, é muito gratificante. A realização de trabalhos voluntários em novas áreas, por exemplo, é uma forma de fazer contatos e existem diversas maneiras de se manter ativo no mercado de trabalho, como ser freelancer ou trabalhar por projetos. A gestora lembrou, inclusive, que práticas do passado estão voltando. Os escambos realizados na Idade Média, hoje também chamados de permutas, têm sido muito comuns entre profissionais que acabam trocando seus produtos e serviços. Boa dica essa, não é? 

Mudanças enfrentadas pelos gestores de pessoas 

Entre os gestores de pessoas, as adversidades também têm sido grandes, uma vez que todos os lados precisam inovar. Segundo Denise, o grande desafio para esses profissionais está na necessidade de eles perceberem que o mundo mudou e que não dá mais para fazer processo de seleção igual aos últimos sessenta anos. 

Mais uma vez, a gestora de pessoas colocou a inovação ao lado da criatividade como habilidades essenciais para o momento. “Como eu vou fazer uma dinâmica de grupo? Eu estava acostumada a colocar 20 pessoas dentro de uma sala. Como é que eu faço isso virtualmente?”, exemplificou ao dizer que a tecnologia está aí para auxiliar nessas inovações. Para ela, um dos pontos importantes é a necessidade de as empresas entenderem o que é se tornar “digital”. Segundo Denise, o sucesso desse processo de digitalização está em “aproveitar esse momento e não ter medo das ferramentas”. Na impossibilidade de avaliar alguém presencialmente, por exemplo, ela sugeriu buscar no encontro virtual outros pontos que apresentem a personalidade e a capacidade profissional. “Você tem que estar atento a outros sinais, outras formas”, orientou. 

Além da criatividade, autoconhecimento, adaptabilidade, vontade de aprender e foco no resultado (apesar das mudanças na forma de trabalho) são outras habilidades que ajudam a superar essa crise de forma muito rápida. Contudo, o que tem feito toda a diferença atualmente são as habilidades socioemocionais. 

Outro ponto destacado por Denise como importante para que o RH ajude mais as organizações nesse momento de crise está relacionado com o fato de o departamento entender o negócio da empresa onde atua. “Eu vi empresas em que os gestores estavam com uma linha muito dura, muito pesada de decisão - vamos demitir, vamos tirar -, e o RH influenciou profundamente nesse trabalho. No começo pode haver resistência, mas aí vale o RH que entende de negócio. Quando ele traz fundamentos claros (como esse mercado vai suportar ou que está acontecendo com a concorrência) a linguagem é outra”, concluiu. 

Como se recolocar no mercado de trabalho agora? 

Plataformas digitais ainda são bons lugares para buscar vagas, mas manter um bom networking ajuda bastante na hora de uma recolocação no mercado. E não é porque estamos em plena quarentena que não iremos manter os nossos contatos profissionais. Mais uma vez, a tecnologia está aí para nos ajudar. “Não espere estar sem trabalho para poder fazer esse movimento”, aconselhou Denise, que também mencionou a importância de a pessoa fazer uma pesquisa sobre o mercado em que atua. “Será que ele está em crescimento?”, “Será que vai demorar para eu voltar a trabalhar?”. Estas são algumas reflexões que podem facilitar a tomada de decisões.        

Se preparar para as entrevistas online também é um ponto bastante importante desse tópico. Elas são mais rápidas e, portanto, é preciso ser sucinto e causar uma boa impressão em pouco tempo. O autoconhecimento nesse momento é um diferencial e se você ainda está em busca disso, Denise deu a dica sobre vários testes disponíveis na internet, inclusive de forma gratuita. “Com isso, você vai criando um roteiro objetivo, claro, que irá responder ao recrutador aquilo que ele precisa saber logo de cara”, explicou. 

Denise entende que não está muito fácil fazer escolhas e, muito menos, se manter preso a ideais. Se a pessoa tem condições de ficar mais tempo sem emprego, tudo bem se dedicar mais à procura do trabalho que se encaixe na sua busca. No entanto, se há a necessidade de trabalhar com urgência, então a postura deve ser outra. “Comece a olhar novas habilidades que podem ser usadas nesse momento, mesmo que não utilize o seu maior potencial”, orientou. 

Como serão os RHs pós-Covid19 

“Controlar é coisa que não existe”, observou Denise quando foi perguntada sobre o que ela achava que os gestores de pessoas poderiam aprender com essa pandemia. De fato, no cenário incerto que estamos vivendo, só dá para planejar a curto prazo, sabendo que não há controle irrestrito de tudo ao redor. O novo coronavírus chegou nos mostrando que não somos tão poderosos quanto pensávamos que fôssemos e que, a qualquer momento, tudo pode mudar. Hoje, fala-se muito do “novo normal” e esse conceito chega para tentar classificar como será o mundo quando tudo isso passar. Por enquanto, ninguém ainda tem a resposta, mas sobre o RH do futuro no mundo pós-Covid19, Denise disse acreditar que haverá a inserção de mais tecnologia na realização dos processos e, entre os gestores, um posicionamento mais humilde e colaborativo, que permitirá o aprendizado de novas habilidades. 

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