Voluntariado: uma prática que beneficia a todos - CRA-SP
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Voluntariado: uma prática que beneficia a todos

Desenvolvimento de competências, colaboradores engajados, clima organizacional integrador e, claro, ações que podem mudar a vida de muitas pessoas. Entenda por que o voluntariado é uma importante atividade para os profissionais, empresas e, também, toda a sociedade

Celebrado há mais de 30 anos, o Dia Nacional do Voluntário (instituído em 28 de agosto de 1985) ainda está longe de fazer parte da realidade de muitas pessoas. A correria do dia a dia e a rotina frenética de trabalho nos grandes centros são algumas das “desculpas” mais usadas por quem nunca praticou uma ação voluntária, mas a verdade é que destinar um tempo, seja ele qual for, para ações sociais é necessário não só para ajudar as instituições que batalham por melhores condições de vida de tantos grupos em vulnerabilidade (como crianças, idosos, moradores em situação de rua, entre outros), mas também é um importante passo para o desenvolvimento de carreiras.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE em maio desse ano, 7,2 milhões de pessoas em todo o Brasil praticaram alguma ação voluntária em 2018, número 1,6% menor do que no ano anterior. Esse total representa apenas 4,3% da população com mais de 14 anos e mostra que ainda há um caminho muito longo a se percorrer nessa área. “O Brasil conta com 820 mil ONGs, de todas as causas, que são financiadas por quem acredita nelas. Ao ser voluntário, o profissional passa a entrar em contato com esse setor, muitas vezes invisível no dia a dia das pessoas, e que precisa contar com uma gestão profissional e equipe dedicada para gerar bons resultados”, afirma o Adm. João Paulo Vergueiro, coordenador do Grupo de Excelência em Administração do Terceiro Setor do CRA-SP. 

João Paulo Vergueiro

A reaprendizagem (confira matéria especial sobre o tema aqui) é fundamental para entendermos e estarmos preparados para as mudanças desse novo mundo. E, assim como mostramos na nossa reportagem principal, esse desenvolvimento não é apenas obtido por meio de programas específicos. Ele passa pela capacidade de mudarmos o nosso mindset para entender que muito do conhecimento pode ser absorvido em diversas atividades, muitas delas sem a forma tradicional com a qual estávamos acostumados. O voluntariado, é, portanto, apenas uma das ferramentas que podem ser usadas nesse processo. 

Para Vergueiro, a prática do voluntariado faz o profissional enxergar muito além da sua rotina de trabalho. “Um exemplo é a empatia, que nos ajuda a tomar decisões que geram impacto positivo a todos. Além disso, de forma geral, o trabalho voluntário requer desenvolver tarefas em contextos de maiores restrições, algo importante para se tornar um bom profissional, pois estimula a adaptação em todas as circunstâncias”, acredita. O administrador menciona, ainda, que o profissional, ao atuar como voluntario, vive experiências em situações mais restritivas do que as que ele irá se deparar em uma empresa e, provavelmente, verá pessoas alcançando ótimos resultados com muitos menos recursos. “Ou seja, ele sabe que o seu potencial é muito maior e que consegue chegar lá”, defende. 

Carlos Guilherme Nosé, CEO da Fesa Group, consultoria especializada em gestão de talentos e desenvolvimento organizacional, concorda com Vergueiro. Para ele, outras habilidades, como organização e otimização de tempo, capacidade de influenciar e engajar pessoas e visão de longo prazo, são recorrentes nos profissionais que atuam em algum tipo de trabalho voluntário. 

Carlos Guilherme Nosé

Na hora do recrutamento 

Um problema enfrentado por quem se dedica a uma ou mais causas, no entanto, é a dificuldade de mostrar esse trabalho na hora de um processo seletivo. Por timidez ou achar que não se deve falar dessa questão, muitos profissionais deixam de mostrar as competências que alcançaram e que podem ajudar na busca por uma oportunidade no mercado de trabalho. A dica para não errar nessa hora é saber mostrar a real motivação pela causa. “Em primeiro lugar, essas experiências devem ser colocadas no currículo. Caso o entrevistador pergunte, descreva primeiro o porquê de seu interesse nesse voluntariado. Pode ser uma identificação pessoal, como alguma situação familiar que você passou e, agora, quer retribuir às pessoas que estão lidando com o mesmo problema. Caso o entrevistador não pergunte, cabe ao profissional relatar o que tem aprendido com a experiência e o que sente ao realizar essa ação. Se o voluntariado for genuíno, dirá muito sobre você”, aconselha Nosé. 

Fica claro, portanto, que a motivação sincera pela prática é um pré-requisito fundamental para o desenvolvimento. Tanto isso é verdade que a Bunge, uma das maiores empresas no ramo de agronegócio, alimentos e bioenergia - e que mantém um programa de voluntariado corporativo por meio da sua Fundação Bunge -, tem muito cuidado ao convidar seus colaboradores para as ações a serem praticadas, a fim de não gerar falsas expectativas. “Não queremos que os funcionários façam parte das atividades voluntárias pensando em benefícios profissionais como promoção ou melhor avaliação. Isso porque entendemos que assim iremos perder a essência do programa. A ação voluntária só dá certo se ela for genuína, ou seja, se tiver aquela vontade sincera de fazer parte de alguma coisa”, revela Claudia Calais, diretora executiva da Fundação Bunge.

O ganho das empresas 

Não são apenas os profissionais que podem se desenvolver por meio da ação voluntária. Dentro das empresas, a realização de atividades socialmente responsáveis, com o engajamento dos colaboradores, também cria um ambiente muito mais harmônico e integrador, ajudando a corporação na preparação dos seus funcionários para os desafios do dia a dia. Claudia conta que, no início das atividades do voluntariado corporativo, o objetivo da Bunge era unificar e transmitir a sua cultura de responsabilidade social dentro da organização. “Os principais formadores de opinião que nós temos estão dentro das empresas, por isso não adiantaria falar que éramos socialmente responsáveis se isso não fosse, de fato, uma cultura dentro da corporação”, relembra. 

Claudia Calais

O projeto deu tão certo que hoje, às vezes, é preciso conter os colaboradores. “Atualmente não temos condições de gerir essa enorme quantidade de funcionários que deseja participar. São 27 unidades atuando em 13 localidades dentro de nove estados brasileiros e chegou um momento em que não temos como expandir isso. Porém, para que todos possam interagir, além dos projetos regularmente promovidos, anualmente fazemos uma campanha que se chama ‘Você é a parte que muda o todo’. No projeto, realizado em um mês específico, todas as unidades, independente de terem ou não programas em andamento, podem criar as ações voluntárias que desejarem, com o apoio da Fundação”, conta. Somando todas as vantagens obtidas com o programa de voluntariado corporativo, Claudia revela que a empresa consegue ter um profissional multidisciplinar e um clima organizacional diferente, pois o colaborador passa a não se ver mais apenas como um número dentro da empresa. 

A unificação da cultura e a melhoria no clima organizacional, além do desenvolvimento dos seus profissionais, não são os únicos pontos importantes para as organizações. Para Gustavo Pereira de Oliveira, analista comercial da plataforma Atados, que conecta pessoas a oportunidades voluntárias, a empresa que mantém um projeto desse tipo também ganha no relacionamento com a comunidade local na qual está inserida, minimizando o seu impacto naquela região.

Na prática

Dentro das organizações, o setor responsável por criar programas de voluntariado corporativo, em teoria, seria o de responsabilidade social. Porém, nem todas as empresas conseguem desenvolver bons projetos dentro de suas estruturas. Sabendo dessa deficiência é que a plataforma Atados criou o programa de voluntariado corporativo, no qual atua como uma consultoria e desenvolve desde o planejamento do programa, até todo o seu andamento, incluindo, por exemplo, a logística, governança e divulgação necessárias para que tudo dê certo. Além disso, a empresa pode escolher participar de ações que já estão incluídas na plataforma ou, ainda, solicitar projetos customizados, de acordo com a causa e o público que deseja atingir. “Nós personalizamos o nosso atendimento para condizer com a realidade da organização”, reforça Oliveira.

Ele lembra que qualquer empresa, independente do seu porte ou ramo de atuação, está apta a desenvolver internamente ou contratar uma consultoria para realizar um projeto de cunho social, mas, infelizmente, essa ainda é uma prática muito restrita. “Por questões culturais de voluntariado corporativo no Brasil, quem mais desenvolve esse tipo de ação são as grandes empresas. Já atuamos com negócios menores, mais isso é menos comum, até mesmo por conta da disponibilidade de verba”, esclarece.

Para as empresas, a questão do investimento ainda é o principal empecilho para a criação de projetos na área social. Já os profissionais sofrem com a falta de tempo. Para esses últimos, porém, a solução parece ser mais simples e a dica do CEO da Fesa Group é começar aos poucos. “Não assuma compromissos que você não poderá cumprir. A pessoa/ONG que será ajudada tem uma enorme expectativa e, caso você não cumpra, a decepção é enorme. Inicie com ações que não exijam muita disponibilidade, algo como 1h por mês ou a cada dois meses. Não importa a quantidade de tempo que você irá dedicar e sim a qualidade e o impacto desses poucos minutos na vida de alguém”, finaliza.  




RONALDO GRECCO

22/08/2019 Sou administrador desde 1978. Sou aposentado e interesso-me por participar de alguma organização onde possa colaborar como voluntário. Vocês tem alguma indicação?

FLORINDO ALBERTO PARISE

19/09/2019 Oportuna a matéria. Há dois anos e meio, faço voluntariado à uma entidade que acolhe crianças de zero a 18 anos. Dedico 4 horas semanais.É uma experiência imensurável, aperfeiçoamento no trato do ser humano pois é feito com o Amor incondicional. Transforma o EU. Gratificante pelos resultados. Florindo Alberto Parise CRA 5847 11-992 669 729
Revista Administrador Profissional - ADM PRO
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