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Renascer das cinzas?

Confira quais fatores podem ajudar as organizações a prevenirem “incêndios” e a manterem a geração de receita mesmo em tempos de crise

O atual cenário de crise gerado pela pandemia do novo coronavírus, que colocou empresas de diversos segmentos e portes diante de uma incontrolável queda operacional, lançou luz sobre a ineficiência de um fator decisivo para a sobrevivência dos negócios: a gestão financeira. E os resultados são alarmantes! De acordo com um levantamento feito pelo Sebrae, ao menos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos até o início de abril. 

Embora a dificuldade de manter um fluxo  de caixa saudável para imprevistos tenha se tornado mais evidente entre as MPEs (que compõem a maior parte dos negócios empresariais no Brasil), seja por conta da baixa capacidade financeira ou da quase inexistência de práticas associadas ao gerenciamento de riscos, grandes empresas também têm encontrado dificuldades para a manutenção de caixa, especialmente aquelas que enxergavam a gestão de riscos como custo e não investimento. É o que afirma o professor de finanças e CFP® planejador financeiro, Fabio Iorio. De acordo com ele, diversos fatores de risco estão associados ao cotidiano de uma empresa desde a sua origem, porém, em cenários de crise, que afetam as organizações de uma maneira geral, poucas estão preparadas para enfrentar esse momento, por nem sequer conhecerem, “minimamente”, a quais fatores estão expostas. 

   Fabio Iorio

De fato, manter o capital de giro em meio ao isolamento social se tornou um desafio para os empreendedores, visto que a restrição de circulação de pessoas afeta diretamente a arrecadação. Mas a boa notícia - se é que podemos chamar assim - é que, segundo Iorio, questões relacionadas ao planejamento financeiro, estrutura e custo de capital e práticas de tesouraria se tornaram ponto focal da gestão empresarial neste momento e devem continuar assim no pós-pandemia. Prova disso é a movimentação das organizações para tentarem driblar ou, pelo menos, minimizar as perdas e promover a liquidez de caixa com ações que envolvem desde a revisão de contratos, renegociação de prazos e priorização de pagamentos a fornecedores, até a redução de custos com a dispensa ou corte temporário de colaboradores.

Reorganização dos negócios

Feita a lição de casa, com a negociação do que é possível e a correta gestão de liquidez e crédito, a última saída para empreendedores que ainda se encontram em apuros tem sido a busca por ajuda de terceiros, mas, para estes, as notícias não são nada boas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, 86% dos mais de 10 mil microempreendedores individuais (MEI) sondados que buscaram crédito entre 7 de abril e 5 de maio tiveram o empréstimo negado ou ainda estão com seus pedidos em análise.  Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) as razões para essa não concessão são as projeções de inadimplência que apontam para 60%, mesmo índice registrado na crise econômica internacional imobiliária de 2008, originada nos Estados Unidos.

Dadas as dificuldades de acesso ao crédito apresentadas no momento, George Sales, especialista em Finanças e Mercado Financeiro da Fipecafi, ligada à  FEA-USP, destaca a importância de inovar para gerenciar receita no presente e no futuro e de aproveitar o cenário para conhecer melhor o negócio e ajudá-lo a crescer. “O momento é de buscar saídas criativas. Se o seu produto ou serviço só pode ser comercializado de forma presencial, a venda antecipada com descontos, os chamados vouchers, são uma ótima opção para trazer caixa e ajudar a manter o negócio durante a crise. Serviços de delivery e venda pela internet também podem ser implantados, justamente porque depois de passada a pandemia, não se sabe qual será o comportamento do consumidor e se haverá a necessidade de um modelo de funcionamento diferente”, indica o especialista.  

        George Sales

A palavra é planejamento 

Apesar da dificuldade de atuarem no momento com uma visão de longo prazo, Iorio acredita que as empresas que compreenderem como será o comportamento de seus clientes e anteciparem o realinhamento dos seus planos de negócios, buscando meios para que a gestão da sua empresa e de seus processos sejam mais eficientes, certamente terão uma possibilidade maior de aproveitar o movimento de recuperação pós-pandemia. 

Mas não é só isso. Para ele, a busca por soluções para reduzir a vulnerabilidade financeira nas organizações brasileiras passa, de forma urgente e direta, pelo desenvolvimento de programas especializados de planejamento financeiro que possam atender indivíduos, suas famílias e as organizações. “Quando consideramos que a maior parte das empresas brasileiras é formada por micro e pequenos negócios, fica evidente que a famigerada falta de planejamento financeiro da população brasileira impacta negativamente nas organizações. Algumas possíveis soluções estão no desenvolvimento de um programa nacional de educação financeira sério, discutido e desenvolvido em conjunto por acadêmicos e profissionais da área, começando pelas crianças e atingindo uma parte importante da população economicamente ativa, porém, com resultados observados a médio e longo prazos”, determina.

De acordo com Sales, vale lembrar que o que se espera de uma empresa não é que ela tenha folga financeira para suportar uma nova crise - até porque, para ele, muitos negócios operam com capital de giro dentro do próprio mês e poucos possuem a capacidade de se manter por um período superior a dois ou três meses - mas, sim, que ela se planeje e passe a considerar o cenário de pandemia e restrição de pessoas como algo possível de agora em diante, especialmente porque os investidores serão mais cautelosos em relação às organizações em panoramas extremos. “Até fevereiro ninguém montava cenários cogitando extrema crise. As análises eram feitas considerando cenários favoráveis, cenários no mínimo e cenários de queda. Ninguém esperava perda absurda de receita e de vendas. Agora, essas cartas precisam ser colocadas na mesa”, sentencia. 

Enfim, em um mundo de incertezas, sai na frente quem reconhece os riscos e aprende a atuar com resiliência e foco na evolução organizacional, sem deixar de lado a implementação de práticas eficazes para o gerenciamento de caixa e manutenção de liquidez, seja em tempos de normalidade ou de crise. Lembre-se: é sempre melhor prevenir um incêndio, do que lidar com as chamas e, depois, tentar se reconstruir das cinzas. Portanto, mãos à obra!

Cuidar das finanças do negócio desde o início é essencial

Como as micro, pequenas e médias empresas dependem mais do capital de giro do que as companhias de porte maior, é importante que os novos empreendedores façam um planejamento financeiro desde o início da operação do negócio. Estar pronto para encarar momentos de incerteza e ter algumas estratégias planejadas podem fazer a diferença na manutenção da receita. Para isso, especialistas da Serasa Experian dão algumas dicas:

  • Expanda sua carteira de clientes e busque mercados que não haviam sido mapeados ainda;

  • Utilize a tecnologia a seu favor, criando canais nas redes sociais e se cadastrando em aplicativos de entrega e outros sites de marketplace, que reúnem pequenos e médios lojistas de setores variados para novas vendas;

  • Peça crédito com cautela, buscando sempre as menores taxas e prazos para o seu negócio;

  • Busque, desde já, implementar outras ações que impactarão as vendas e a fidelização de clientes, como a oferta de brindes e benefícios para aqueles que compram com periodicidade.




ADM PRO

30/06/2020 Muito bom. Gostei demais.

ADM PRO

01/07/2020 Muito legal!
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