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Humanização e tecnologia lado a lado

Considerados antagônicos em alguns momentos, o mundo digital e o contato humano se encontram para dar lugar a um RH protagonista nas mudanças aceleradas pela Covid-19. Maior participação nas tomadas de decisões nos negócios e transparência na hora de se comunicar com os colaboradores, além da revisão de processos já estabelecidos, são outras tendências para o setor que, mais do que nunca, terá um papel de destaque dentro das organizações

Não há dúvidas de que a área de Recursos Humanos foi uma das mais impactadas diante das recentes transformações. Mudanças na forma de trabalho, desafios na hora de se comunicar com os vários times a distância, adequação para um recrutamento totalmente online e a reestruturação de suportes e benefícios para que os colaboradores pudessem ser atendidos em suas novas necessidades. Todas essas alterações colocaram o setor em uma posição estratégica dentro das organizações, posto esse que já deveria ter sido ocupado há muito tempo, afinal, também no RH as transformações foram aceleradas de uma forma radical, mas não totalmente inesperadas. 

“A quarentena mostrou aquilo que já sabíamos e que muitas empresas não colocavam como prioridade – inovação nos processos e agilidade nas mudanças. Ficou clara a necessidade de termos um plano de contingência bem estruturado e um comitê estratégico, não somente de combate à crise, mas também de mudanças organizacionais. O RH ou, como gosto de chamar, área de Gente, é peça fundamental nesta transformação e em todas as reestruturações que ocorrem dentro da organização, afinal somos os principais embaixadores da cultura e protagonistas para todas as estratégias empresariais”, defende Luana Horchuliki, diretora de Gente e Gestão da Kenoby, software de recrutamento e seleção.

Papel de protagonista 

Ao longo dos tempos, o RH mudou várias vezes de posicionamento dentro das empresas e, também, foi visto de diferentes maneiras pelos colaboradores. Transformações necessárias para se adaptar às novas exigências do mundo corporativo e, também, dos profissionais. Luana lembra que, há algum tempo, diversas corporações passaram a não usar mais o termo Recursos Humanos na nomenclatura dos departamentos, justamente para transmitir uma imagem mais humanizada do setor e não apenas a de um gerenciador de recursos. “Tivemos fases nas quais muitos achavam que o RH era a área que fazia o que os gestores não queriam fazer, a fase das caixinhas com várias subdivisões, o setor chato dos processos burocráticos e, finalmente, estamos em um momento em que somos os parceiros do negócio, exercendo um papel estratégico dentro das empresas”, contextualiza.

   Paulo Sardinha

Quem compartilha desse pensamento é o presidente da ABRH Brasil, Paula Sardinha, que também enxerga o protagonismo do setor, que deve estar atento aos aprendizados do período atual para direcionar as pessoas e as organizações para a nova etapa que está chegando. “É o momento para o RH reforçar seu papel cada vez mais estratégico, pois precisamos focar no futuro e na reconstrução das empresas. Com isso, reinventar será a palavra de ordem, o que engloba gestão de pessoas, produtividade, educação e relações trabalhistas. É importante, ainda, destacar que a atuação do RH deve ir além dos muros das empresas, servindo como exemplo de boas práticas para a sociedade”, defende. 

Digital e humano

A agilidade nas transformações digitais mudou a forma como as pessoas enxergam o trabalho em suas vidas.  Estando em casa é praticamente impossível desassociar a vida pessoal da profissional e vice-versa, uma vez que o cuidado com os filhos, as rotinas domésticas e todas as demandas familiares estão a apenas um passo da estação de trabalho. “A quarentena quebrou os muros das empresas. Hoje, o que fazemos em um escritório podemos realizar do sofá de casa enquanto nosso filho dorme. Isso pode ser maravilhoso para uns ou pesadelo para outros, mas uma coisa é fato, mudou nossa forma de se relacionar não só com o trabalho, mas com o mundo, e isso está sendo inovador. Com a pandemia ficou ainda mais evidente que a área de Gente precisa sair da zona de conforto, utilizar as tecnologias para melhorar, otimizar e facilitar a construção dos processos com as pessoas e não para as pessoas, incluir o colaborador no centro das decisões e ter o papel de difusor da cultura de inovação e autonomia”, explica Luana. 

Isso não significa, porém, que permaneceremos longe mesmo quando tudo isso passar. O contato humano e as relações presenciais continuam sendo importantes para muitas pessoas e para o bom funcionamento de algumas atividades, uma vez que o distanciamento trouxe, justamente, o reconhecimento de todas essas necessidades. A tendência é que haja uma harmonia que traga bons resultados para empresas e profissionais, como explica o presidente da ABRH Brasil. “As ferramentas tecnológicas e digitais foram alavancadas em muitos aspectos, permitindo o andamento das atividades. Entretanto, para chegar ao equilíbrio, é preciso analisar cuidadosamente até que ponto o virtual será aceito, pensando ainda que esse é um momento em que o presencial é um desejo cada vez mais valorizado, pela necessidade de os seres humanos voltarem a ter uma interação social. Dessa forma, após a pandemia, o contato virtual seguirá ampliado, mas não na mesma intensidade como muitos acreditam, criando assim um equilíbrio”. 

Por essa razão, a união entre o digital e o humano é tão importante. Será papel do RH pensar nas adaptações necessárias para esse trabalho híbrido, cheio de particularidades e necessidades individuais. Para Luana, a cultura da empresa precisará se ajustar para que esses cenários possam acontecer de uma forma estratégica. “Não tem receita de bolo, mas existe flexibilidade e agilidade em se adaptar e precisamos estar prontos. Por isso, tudo que for pensado de maneira física deve ser imaginado também de forma remota, pois precisamos colocar o digital como parte de todas as nossas rotinas”, defende. 

          Luana Horchuliki

Cuidado com o colaborador 

Outra questão essencial derivada dessa crise que vivemos é a importância de se falar sobre a saúde psicológica dos colaboradores. Essa, também, não é uma novidade, mas sim uma situação agravada diante de tantas notícias ruins às quais os profissionais estão expostos ultimamente. Depressão, crises de ansiedade, síndrome de Burnout, entre outras doenças, fazem parte do mundo corporativo há tempos, mas em grande parte das organizações são tratadas com silêncio e, muitas vezes, desconfiança. Porém, apoiar a saúde mental dos colaboradores é essencial para que eles possam desempenhar suas tarefas e projetos. Luana lembra que a implantação de ações como mindfulness, meditação e yoga, além de concessões como day off e jornada flexível, são apenas alguns exemplos para o desenvolvimento de um plano de bem-estar. Antes disso, porém, é preciso que haja um planejamento adequado, visando assegurar aquilo que faz sentido para cada tipo de organização. “Também é super importante ter a prática de aplicar pesquisa de clima, estar aberto às sugestões, acompanhar todas as áreas para entender a dinâmica de liderança dos gestores e a sensação de segurança psicológica que a empresa está proporcionando aos colaboradores. Praticar a escuta ativa, empatia e transparência na comunicação com os colaboradores, sempre”, orienta a diretora da Kenoby. 

A comunicação, inclusive, é um dos principais aspectos para que este “novo” RH seja cada vez mais estratégico e assertivo. Sardinha lembra que a área deve fazer um acompanhamento próximo, caso a caso, para entender as necessidades de cada colaborador e explica que o setor deve ser um facilitador ou mesmo um mediador se o empregado precisar de algum acompanhamento profissional. Falando sobre as lideranças, ele orienta os gestores a estarem preparados para lidar com diferentes emoções, reforçando a importância dessa comunicação transparente para evitar ruídos e boatos.

As necessidades atuais da área de Recursos Humanos trouxeram grandes aprendizados que seguirão se desenvolvendo para que o setor seja cada dia mais valorizado pelas organizações e pelos funcionários. Luana lembra que todas essas mudanças representam a obrigatoriedade de transformação na forma de liderar e de se posicionar, mantendo uma postura mais colaborativa e horizontal. Ela também cita outras importantes ações como a adoção de uma cultura ágil, o fortalecimento da cultura de inovação e o desenvolvimento de habilidades que antes eram vistas como secundárias. “É o momento que a área de Gente pode e deve ajudar na aceleração da inovação dentro das empresas, enquanto ela mesma se inova”, finaliza. 




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14/07/2020 RH cada vez mais eficiente, muitas vezes em negócios perdendo competitividade. Muitos dirão que não é papel do RH cuidar da competitividade. Acredito que a próxima etapa de evolução deva ser ajudar a mover os ponteiros da satisfação dos clientes, e os indicadores de resultados. Mas para esta etapa chegar os gestores precisam derrubar os silos corporativos e fazer parte do processo de atendimento do mercado. Não adianta ser Greate Place to Work se o negócio não evolui junto com as pessoas.
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