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Estamos prontos para a revolução do 5G?

Você já parou para pensar em como sua vida vai mudar quando o 5G estiver em funcionamento no Brasil? Já imaginou a quantidade de novos negócios e oportunidades que surgirão quando a rede for capaz de conectar não só as pessoas, mas também as coisas? É praticamente impossível mensurar o número de inovações que teremos daqui pra frente, mas há uma certeza: não é apenas o entretenimento (principal item das campanhas de marketing das operadoras) que sofrerá grande impacto. Nossas vidas, em todos os setores, serão transformadas e elevadas a outro nível, em uma conexão que unirá tudo e todos de uma forma nunca antes imaginada.

A rede 5G foi desenvolvida mundialmente com o propósito de agir em três grandes questões: a velocidade, que chega a ser até 20 vezes maior do que no 4G; a possibilidade de conectar milhares de dispositivos por antena, possibilitando a famosa internet das coisas (IoT), e a latência, ou seja, o tempo que a mensagem leva para sair de onde está sendo transmitida e chegar ao seu destinatário. É essa transmissão em tempo real que impactará diretamente os negócios e a economia do país, pois ela viabilizará a indústria 4.0 e o desenvolvimento de tecnologias exponenciais, uma demanda tão urgente que não podemos negligenciar de jeito nenhum.  

 André Sarcinelli 

Um novo modo de vida e, também, de gestão

Carros autônomos que dependiam de transmissões em tempo real para serem seguros serão, finalmente, uma realidade devido à essa baixa latência da rede. Cirurgias e exames a distância também encontrarão nessa novidade a sua viabilização. Casas inteligentes, com inúmeros dispositivos conectados ao mesmo tempo e conversando entre si também sairão do nosso imaginário.

Nas empresas, os escritórios virtuais serão ainda mais potencializados, independente da localização geográfica das pessoas, principalmente para reuniões em vídeo. O entretenimento sofrerá um upgrade sem igual, com a potencialização do sistema de streaming e do mercado de games. Isso sem falar na criação de serviços, no desenvolvimento das cidades inteligentes (confira matéria sobre o tema aqui) e na transformação das indústrias.  “O mercado industrial experimentará o 5G na automatização/robotização do processo fabril, bem como para execução de tarefas a distância que precisam alto processamento na ‘ponta’, velocidade de resposta e muita banda” afirma André Sarcinelli, diretor de Engenharia da Claro Brasil. 

Política versus tecnologia

Embora nem todas as atividades citadas anteriormente estejam em funcionamento em larga escala, países como China, Estados Unidos, Coreia do Sul, Espanha e Itália já contam com redes comerciais do 5G. Essa também não é uma novidade na América Latina, uma vez que o nosso vizinho Uruguai, desde o primeiro semestre de 2019, já vive a nova era de internet móvel. No Brasil, entretanto, entraves políticos, econômicos e de infraestrutura têm atrasado a chegada da rede e promovido debates calorosos entre diversos atores do cenário nacional e, também, internacional.    

Em uma dessas discussões, o Brasil, aliado dos Estados Unidos, se viu em meio a um imbróglio político e econômico entre a China e o vizinho americano depois que Donald Trump resolveu banir a empresa chinesa Huawei do país, fazendo pressão para que nações parceiras tomassem a mesma atitude. A alegação é de ameaça global cibernética e uma possível espionagem aos cidadãos norte-americanos por parte da gigante de telefonia, que é líder no fornecimento de equipamentos de telecomunicações no mundo e a 2ª maior fabricante de celulares do planeta. 

       Alberto Luiz Albertin

O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes afirmou que o Brasil não irá fazer qualquer sanção à chinesa no país, mas o administrador e professor Alberto Luiz Albertin, coordenador do Programa de Excelência em Negócios na Era Digital (NED) da FGV EAESP, afirma ser difícil prever o fim dessa história. “O mais apropriado é você escolher o melhor momento, forma e tecnologia adequada para sua infraestrutura, independente das relações comerciais e políticas, especialmente entre outros países. Espero que o efeito seja o menor possível para nós, mas no cenário político atual é difícil ter uma certeza”, analisa.

Segurança da informação

Toda essa discussão, porém, suscitou o medo de que, sendo a Huawei a vencedora na disputa, estaríamos sujeitos a uma espionagem chinesa que poderia comprometer todas as informações empresariais e governamentais transmitidas pela nova rede. Esse receio, baseado em especulações diversas serviu de alerta: estaremos mesmo suscetíveis a um grande problema de vazamento de dados?

“De fato, quem cuida de uma infraestrutura tecnicamente poderia ter acesso à informação que está passando pela rede, apesar dos protocolos internacionais e da questão tecnológica, de criptografia etc. Mas isso pode ocorrer independente do país ou empresa detentora da tecnologia. Essa é uma realidade que tem que ser cuidada porque potencialmente é muito arriscada, mas, em vez de ficar ameaçando, criando assim um grande fantasma, o melhor é trabalhar em regulação, em acordos internacionais e em tecnologia de proteção, pois essa é uma ameaça que sempre estará presente”, orienta o professor Albertin.  

Infraestrutura, investimentos e oportunidades

O leilão (inicialmente previsto para o primeiro trimestre desse ano), ao que tudo indica ficará apenas para 2021. A pauta, inicialmente discutida apenas na área da Ciência e Tecnologia, tem tomado outro rumo diante das possíveis perdas que esse atraso representaria ao país. É o que explica Georgia Sbrana, vice-presidente de Marketing, Comunicação e Relações Institucionais da Ericsson Latam. “Ela é uma pauta que, por ser uma ferramenta de transformação para a própria economia do país, também precisa ser debatida por outras pastas. O que discutimos com o governo é a importância de o leilão acontecer o quanto antes e sem viés arrecadatório, ou seja, ele tem que dar margem para que as operadoras possam ter dinheiro para investir de fato e, com isso, alavancar o crescimento do país”, conta.

Segundo um estudo realizado pela Ericsson, o Brasil pode chegar a perder mais de R$ 24 bilhões em cinco anos com o atraso. Isso porque a chegada do 5G implicaria na movimentação de um enorme mercado, envolvendo internet das coisas, sensores e demais negócios sujeitos a diversos impostos e, consequentemente, dinheiro para os cofres públicos.  

 Henry Rodrigues

A decisão de adiar o leilão foi influenciada, ainda, por entraves técnicos, como explica Henry Rodrigues, coordenador de Tecnologia e Inovação do Centro de Referência em Radiocomunicações – CCR do Instituto Nacional de Telecomunicações - Inatel. “O principal recurso necessário para implementar o 5G é o espectro de frequência, pois fazemos parte de um padrão global utilizado em vários países. Aqui no Brasil, a frequência em que o 5G vai entrar já estava sendo usada por outro serviço, o da TV aberta via satélite. Esse não é um problema simples e não adianta nada fazer um leilão e não poder operar. Esse seria um grande problema também para as operadoras que teriam que fazer um alto investimento e adiar o retorno”, defende.

Tecnologia nacional

Pensando nas oportunidades pós-leilão, porém, o Inatel, considerado o principal protagonista nas pesquisas de 5G no Brasil, já está de olho nas melhorias da rede e na resolução de outros problemas. Isso porque a conexão rápida e estável da quinta geração de internet percorre distâncias menores, o que acaba inviabilizando o acesso em áreas rurais e remotas. “Nós desenvolvemos e implementamos aqui dentro do Inatel um 5G com uma cobertura, por torre, de 50 quilômetros. Isso foi pesquisado, desenvolvido, testado e levado a campo, com uma demonstração em agosto de 2017 lá em Brasília.  Temos sido um grande consumidor de tecnologia, mas nunca um desenvolvedor e esse novo projeto, que resolve um problema não só nosso, mas mundial, tem como objetivo mudar isso”, conta Rodrigues. 

       Georgia Sbrana

Gestão

Para Georgia, é imprescindível lembrar que não só a parte tecnológica será afetada com a implantação da nova rede. “O 5G e a internet das coisas (IoT) são habilitadoras para se trabalhar com um ecossistema muito completo, juntando vários pedaços de um quebra-cabeças e, por isso, diversos perfis vão poder trabalhar com essa tecnologia. No campo da Administração, inclusive, haverá a abertura de uma série de oportunidades, pois estamos falando de uma gestão diferente”, afirma Georgia.

Aproveitar todas essas oportunidades, portanto, também depende muito de como os gestores das empresas, sejam elas públicas ou privadas, irão atuar, defende Sarcinelli. “O 5G é uma tecnologia de conectividade que habilita casos de uso ainda pouco explorados ou nem se quer cogitados. O que faremos e como faremos através do 5G depende de cada setor da indústria, do seu poder de investimento em inovação e do estágio de transformação digital de cada um. Cabe a todos os setores influenciar e incentivar a pesquisa e inovação, além de desenvolver parcerias e tomar os riscos da mudança que virá. O fato é que o 5G será um passo importante para tudo o que se espera de futuro, mas ainda há um ecossistema grande que precisa ser desenvolvido para que seja uma revolução, e não apenas uma evolução”, explica. 

Não é difícil prever, portanto, que também a Administração passará por transformações para atender a esse novo cenário.  Setores como gestão de pessoas, logística, marketing, finanças e tantos outros serão impactados pelas facilidades da nova tecnologia e, por isso, é necessário que os profissionais invistam na atualização de seus conhecimentos globais para que possam buscar novas vagas no mercado de trabalho e, também, desenvolver novos negócios. Essa capacitação, no entanto, não precisa esperar a divulgação do leilão ou o desenrolar de questões técnicas de infraestrutura para começar a acontecer. O futuro já bate a nossa porta, só precisamos escolher de que forma iremos abri-la. 

Em tempo

No último dia 06 de fevereiro, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovou a proposta de edital do leilão do 5G. O documento ficará aberto para consulta pública por 45 dias e, depois da análise das contribuições, voltará para verificação da Anatel. Antes de ser lançado, ele ainda passará pelo crivo do Tribunal de Contas da União (TCU).

A evolução da internet móvel no Brasil

  • 2G – Popularizada nos anos 90, a rede permitiu principalmente a troca de mensagens de texto e fotos via SMS, mas seu foco ainda era a conexão de voz

  • 3G - A evolução da rede 2G foi responsável por popularizar o acesso à internet móvel no Brasil e teve seus primeiros acessos em 2007. Visava a transmissão de dados de voz, a navegação em sites e redes sociais e o envio de e-mails

  • 4G – Com início de operação em 2013 no Brasil, a rede, além ser até 100 vezes mais rápida que o 3G, permitiu que mais pessoas pudessem se conectar sem perda da qualidade de sinal. Priorizava o tráfego de dados (áudio, texto, vídeo, foto) e não mais o tráfego de voz e foi importante no país especialmente diante dos eventos internacionais que o Brasil sediou, como a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016)

  • 5G – Prevista inicialmente para chegar no país em 2021, permitirá a conexão não só entre as pessoas, mas também entre as coisas. A conexão mais rápida (algo entre 10 e 20 vezes mais do que em relação ao 4G), permitirá uma latência muito menor, viabilizando a transmissão de dados em tempo real e a possibilidade de mais dispositivos conectados




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